Um pescador fisgou um tronco de árvore que vale uma fortuna.



Min Kwok, 58 anos, um pescador de Hong Kong, ficou desesperado quando um enorme tronco de árvore enroscou na sua rede de pesca. A princípio, ele pensou em jogar aquele enorme incomodo, mas sentiu que um cheiro muito forte exalava daquele tronco de árvore.

Quando ele removeu uma parte da casca daquele tronco, jorrou um óleo amarelo com um aroma muito forte. Min Kwok percebeu então que havia fisgado um tronco de uma árvore muito valiosa, chamada de Aquilária, que produz uma resina caríssima que dá à madeira o nome de madeira de ÁGAR mais conhecida como "rainha do incenso".

Especialistas confirmaram que o tronco, com um diâmetro superior a três metros, é realmente um autêntico ÁGAR e foi avaliado em US $ 138 milhões (R$ 796 milhões), uma verdadeira fortuna.

Mas o que torna essa madeira assim tão valiosa e especial?

A madeira de ÁGAR se forma quando aquilárias, árvores do gênero Aquilaria, tradicionalmente plantadas ao redor de vilarejos devido a suas propriedades de Feng Shui (técnica milenar chinesa de regras de decoração e disposição para melhorar o fluxo de energias positivas), são danificadas, o que permite que um mofo ataque a madeira.

Aquilaria, cresce nas florestas tropicais do sudeste da Ásia, é considerada a árvore mais valiosa do mundo.

Quando cortada, a madeira escura, infectada e repleta de resina é separada da madeira saudável, sem cheiro e cor de creme.

E é essa preciosa resina que deu à madeira de ÁGAR o codinome de "rainha do incenso" - e por isso, foi intensamente comercializada no Oriente Médio (onde também é conhecida como oud) e na Ásia.

Você não pode cortar madeira de uma árvore viva; ela não tem aroma, para se transformar em madeira aromática é necessário que a árvore seja infectada por um parasita especial que vive e se propaga até a morte da árvore por quase dez anos. Então a árvore não é tocada por mais dez anos: ela se decompõe até se transformar na famosa madeira de ágar.

Dados das dinastias chinesas Tang e Song mostram que ela era uma commodity de alto valor, e seu aroma forte tem associações históricas com várias religiões, como budismo, taoísmo, islamismo e cristianismo.

Pedaços pequenos de madeira de ágar são vendidos a preços de ouro no mercado asiático e oriente médio.

Hoje, pedaços pequenos de madeira de ágar coletados para a fabricação de incenso são vendidos a pouco mais de R$ 24 mil o quilo.

Uma escultura feita à mão em um pedaço maior de madeira de ágar, representando uma árvore, estava à venda na Wing Lee por HK$ 1.2 milhões (pouco mais de R$ 912 mil).

"São como peças de arte", diz Yuen Wah, 84 anos, que dirige a Wing Lee com lojas em Pequim, Xangai e Harbin.

"A madeira de ágar sempre foi uma madeira cara", diz Yuen Wah, lembrando do tempo em que começou a trabalhar nessa indústria, aos 13 anos de idade.

"No passado, ela era usada na medicina e era um ótimo analgésico. Agora passou de uso medicinal para ser usada como incenso".



O óleo de ágar é o resultado de uma doença das árvores, ele é produzido como uma reação protetora a uma infecção fúngica ou bacteriana.

As árvores infectadas começam a produzir uma resina protetora que se acumula nas áreas afetadas (raízes, galhos, partes do tronco). Gradualmente, a resina literalmente impregna a madeira, ficando mais dura e ficando marrom escura, às vezes quase preta.

Ao mesmo tempo, o núcleo de Aquilária (a parte central da árvore, mais escura e mais antiga que o alburno) é a mais indefesa contra infecções.

É por esse motivo que, para se extrair óleo, muitas vezes é necessário destruir a árvore inteira, embora seja mais lucrativo cortar apenas as partes infectadas.

A madeira de ágar é exportada de várias formas (lascas de madeira, pó, óleo, além de produtos acabados, como perfumes, aromas e medicamentos).

O aroma do ágar é complexo, inebriante e elegante, ao mesmo tempo docemente floral e amadeirado. O ágar tem uma ampla gama de ações e é considerado o afrodisíaco mais poderoso dentre as fragrâncias.

É originária do âmago do tronco da árvore tropical Aquillaria (Aquilaria agallocha e A. malaccensis), que cresce no sul e no sudeste da Ásia.

Depois que a árvore é infectada com o mofo Phialophora parasitica, para se proteger e curar, a árvore produz uma resina grossa e perfumada que absorve o âmago da árvore.

Nem toda árvore infectada produz resina e sua qualidade também depende da idade da árvore (quanto mais velha, melhor). Para destilar apenas 20 ml de óleo essencial, são necessários 70 kg de madeira de ágar.

Essa resina é chamada de madeira de ágar, oud ou ouh em árabe, ghara em malaio e jinko em japonês, que literalmente significa "cheiro que afunda na água" porque a madeira embebida em resina é tão dura que não flutua, mas afunda.

Os principais importadores são os países do Oriente Médio e Extremo Oriente, em especial os Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, além de Hong Kong, Taiwan e Japão.

A resina na aquilária é usada para produzir óleo oud, que é frequentemente descrito como "ouro líquido"

A resina é especialmente cobiçada pelo uso em perfumes e incensos. Ela é destilada para criar óleo oud, ingrediente essencial em perfumes de luxo como Privé Oud Royal, da Armani, e M7 Oud Absolu, da Yves Saint Laurent.

O preço do oud foi estipulado em cerca de R$ 230 mil o quilo - por isso é frequentemente descrito como "ouro líquido".

Mas a enorme demanda por madeira de ágar nas últimas décadas levou as espécies de Aquilaria em Hong Kong à beira da extinção.

A Asia Plantation Capital (APC, na sigla em inglês), uma das maiores plantadoras comerciais de aquilária da Ásia, está tentando salvar as árvores ao encorajar plantações sustentáveis em Hong Kong e em outras partes da Ásia.

Eles acreditam que apenas algumas espécies selvagens ainda existem em Hong Kong, apesar do governo local afirmar ter plantado 10 mil mudas por ano desde 2009.

Plantar mudas não é garantia de sobrevivência, já que as árvores levam anos para alcançar a maturidade. E a atual população madura está ainda mais ameaçada por causa da extração ilegal.

"Os madeireiros procuram árvores antigas que são naturalmente infectadas, já que elas têm mais valor, então essas árvores estão cada vez mais em perigo", diz Gerard McGuirk, diretor de vendas em Hong Kong. "Agora em Hong Kong você terá sorte se achar uma árvore com 30 anos de idade".

Enquanto o número exato de árvores que ainda existem na natureza está em discussão, é evidente que está ocorrendo uma pilhagem desenfreada das espécies selvagens.

Perto do vilarejo de Shing Ping, próximo à fronteira com Shenzhen, Koon Wing Chan, da terceira geração de plantadores de aquilária, toma conta de uma plantação de cerca de 6 mil árvores.

Ele é o único produtor de aquilária de Hong Kong. E, em uma tentativa de sustentar, preservar e vender essa espécie ameaçada, ele fechou uma parceria com a APC.

Para mostrar como essas árvores selvagens sofrem com a ação de extração ilegal, a APC oferece tours guiados na fazenda de Chan e em vários parques públicos que abrigam aquilárias.

Perto da plantação de Chan, no parque Pat Sin Len, o ar é denso com o aroma de madeira de ágar emanando das árvores que foram cortadas e reduzidas a troncos despidos.

"Nem toda árvore terá resina, então os ladrões estão fazendo suas apostas", disse Wah. Na natureza, apenas 7% das árvores produzem resina.

Na parte mais densa do parque, abafada e cheia de mosquitos, o odor distinto é um sinal de que madeireiros ilegais terão alguma recompensa por um risco que pode resultar em 10 anos de prisão.

Nos últimos dois anos, a polícia e o Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação (AFCD, na sigla em inglês) realizaram 35 operações contra a extração ilegal em locais como Sai Kung, ilha de Lantau e regiões norte dos Novos Territórios.

Agora, o AFCD planeja testar o monitoramento eletrônico remoto de árvores e um circuito de televisão na Reserva Natural Tai PO Kau, na costa oeste do território, além de plantar mais mudas em seu Viveiro Tai Tong, perto de Yuen Long.

Plantar algumas mudas nos parques de Hong Kong parece não ser uma atitude eficaz para impedir a extração ilegal, mas o interesse cada vez maior de investidores em plantações ambientalmente sustentáveis de aquilária poderiam salvar as árvores de incenso de Hong Kong da extinção.

"Nós temos plantações de aquilária em cinco países e acreditamos fortemente em sua sustentabilidade holística, investindo nas comunidades que operamos para criar impacto social positivo", diz Watt.

"Nossa parceria estratégica com Chan nos ajudará a oferecer apoio e conhecimento para desenvolver oportunidades comerciais de longo prazo em Hong Kong com uma base sustentável enquanto também ajudamos Chan a produzir óleo oud localmente", disse.
    Blogger Comment
    Facebook Comment

0 Comments:

Postar um comentário